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terça-feira, 15 de março de 2011

Mais duas crianças mortas no Vale por precariedade hospitalar: uma em Itaporanga e outra em Igaracy




Luiz Paulo seria o nome do primeiro filho de um casal do sítio São Pedro, mas a criança não veio à luz, morreu mesmo antes de nascer.

Conforme apurou a Folha, a parturiente chegou ao hospital de Itaporanga na manhã do dia 4 de março com fortes dores e sem condições físicas de ter um parto normal, como posteriormente foi constatado, mas só foi operada à tarde, quando a criança já estava morta. “Se eu tivesse condições podia ter salvado meu filho, mas a gente é pobre, não tem dinheiro”, comentou o pai da criança, que pediu para não ser identificado por acreditar que pode ser prejudicado, embora já tenha sofrido o maior prejuízo de sua vida, que foi a perda do primeiro filho em circunstâncias, no mínimo, estranhas. “Era um meninão, bonito e perfeito”, diz ele emocionado.



A mesma dor sentiu a família do menino Edney Moura Félix (foto), de apenas 11 anos, que morreu na noite do sábado, 12, a caminho do hospital de Piancó por falta de atendimento hospitalar em sua cidade, Igaracy.

A criança faleceu vítima de uma parada respiratória, conforme o laudo cadavérico, o que indica que um simples balão de oxigênio teria salvado a vida do menino, mas o único hospital de Igaracy está fechado desde o dia 3 de fevereiro por determinação do Conselho Regional de Medicina. O CRM constatou várias irregularidades no nosocômio, entre eles a falta de profissionais.

“A população ficou muito revoltada com a morte da criança, porque é uma coisa que pode acontecer com qualquer pessoa, já que nossa saúde é precária: já fizemos reunião com secretário de saúde, mas não tem jeito”, comenta a vereadora Fabrícia Lopes, ao enfatizar que “O que nós queremos é que o prefeito (Celino Farias) deixe as divergências políticas de lado e passe a cuidar da cidade, que está abandonada: não temos água, o cemitério foi tomado por animais por falta de muro, o matadouro também está em precárias condições e a saúde pública é o pior problema”.

Conhecidos como Maria dos Remédios e Neném, os pais do menino, que foi sepultado na manhã desse domingo, 13, estão revoltados e, ao mesmo tempo, profundamente abalados. Dezenas de pessoas acompanharam o sepultamento da criança, que estudava na escola Joselita Brasileiro. Revolta e comoção marcaram o enterro.

Somente nos últimos cinco meses, pelo menos 12 crianças regionais, a maior parte de Itaporanga, morreram por falta de assistência médica especializada.

Diante desse trágico quadro, a Fundação José Francisco de Sousa, desde o final do ano passado, está colhendo assinaturas em toda a região para um abaixo-assinado solicitando a construção de um hospital infantil no Vale e também melhorias do atendimento nas salas regionais de maternidade. O documento será entregue pessoalmente ao governador Ricardo Coutinho quando de sua primeira visita à região, que tem mais de 35 mil crianças. Foto: Há uma década, o jornal Folha do Vale vem denunciando a falta de assistência pediátrica no Vale, mas nenhuma providência foi tomada até o momento pelas autoridades.

folhadovali.com.br

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